terça-feira, outubro 31, 2006

noivas



Esta foto é de uma loja de noivas no bairro muçulmano de Skopje, Macedonia, onde fomos parar na nossa tournée do ano passado. Gostei do detalhe dos diferentes estilos, conforme as religiões ou etnias: primeiro vestido, noiva católica; segundo vestido, noiva cigana, coloridíssima, naquele jeito sandra-rosa-madalena de ser; terceiro, noiva muçulmana, a mais coberta de todas. Quem aí já leu O Livreiro de Cabul? A realidade é mais fantástica do que toda e qualquer ficção.

Mas a Macedonia é interessantíssima, como são, aliás, todas essas ex-repúblicas soviéticas (no caso da Macedonia, ex-iugoslava). Todas parecem estar descobrindo o mundo com anos de atraso, sem querer esperar mais nem um segundo. Em Skopje comemos divinamente (culinária meio grega), vimos programas de TV em sérvio e em macedonio mesmo, e tivemos míseros dois dias pra tentar entender aquela informação toda. Todos os jovens que conhecemos por lá sonham em sair do país. Meio assim feito o Brasil recente. Em Nova York, um mês mais tarde, o garçom que nos atendeu no restaurante italiano era justamente um estudante macedonio (o restante da equipe incluía gregos, russos, búlgaros, e até um brasileiro. Italiano, que é bom, nenhum.) Diz ele que o problema é a falta de perspectivas. Bom, nesse particular, empatamos _ ou não?

Na Macedonia tem bom vinho, tem jeitinho `a brasileira, burocracia, aeroporto que fica num lugar sombrio e sem ninguém, polícia mal-encarada, mercado ao ar livre, cachorro que dorme na rua, edifícios modernos e bairros bastante pobres, noivas de todas as tradições. E a esperança distante de um dia, quem sabe? o país virar membro da comunidade européia.


segunda-feira, outubro 23, 2006

outras bossas


outras bossas
Oba!

Hoje está nascendo o meu blog 'Outras Bossas'. Um blog de quem tem opinião formada sobre tudo, ou pelo menos pelos assuntos que me interessam, e que são (serão) muitos, não necessariamente na ordem que se segue: feminismo, sumô, culinária, Rio de Janeiro, espiritismo, política internacional (já que a nacional não está valendo a pena), cinema, meio-ambiente, jornalismo, comportamento humano em geral... e música, música, música.

Começando por ela, a música: como é que a gente faz um lobby junto `a Unesco pra que a bossa-nova seja reconhecida como patrimonio imaterial da humanidade, o que de fato e de direito é _ a grande contribuição brasileira para a paz mundial? O samba de roda do Recôncavo baiano já chegou lá... Fala, ministro.

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Enquanto isso, no Leblon…

Turismo interno é isso aí: chega o fim de semana, gente de todos os bairros e procedencias ruma para a grande locação da novela. Tem os turistas de ocasião, os que chegam com o propósito explícito de conhecer a sensação de ter entrado num capítulo do Manoel Carlos. Esses dificilmente voltarão a freqüentar quando entrar a novela do Gilberto Braga. Mas é bom enquanto dura. Outro dia, no Celeiro, uma mesa de senhoras d’além-blon buscava as possíveis celebridades presentes, que lhes haviam sido prometidas em alguma matéria da vejinha. Não acharam, o movimento ‘celeb’ estava meio fraco naquele dia, o que serviu para realçar minha modesta presença na casa. Minha passagem chegou a ser comentada: olha uma celebridade aí, eu não disse? Até agora não sei se foi elogio ou desaforo.

Tem o turismo fugaz dos moradores de rua, quase sempre provenientes de outras localidades, que vão ao Leblon atrás de algum trocado. Cuidado, colega: quando a mocinha lhe pedir fraldas para o bebê, desconfie, é o que me aconselha a esteticista, uma legítima moradora de um quitinete no Leblon, com a autoridade de quem saiu de família paupérrima da área rural da Zona Oeste, e abriu seu caminho na base do estudo informal e da batalha. Segundo esta minha amiga, o pessoal troca fraldas e remédios mais caros por dinheiro, na farmácia mesma em que foram comprados. Tarde demais: eu já dera minha contribuição para essa espécie de bolsa-fralda, que perversamente sustenta as ultra-jovens famílias na rua e não impede que as crianças continuem molhadas.

Por essas e outras (barulho, perda da qualidade de vida, iptu caríssimo que não compensa a bela vista que já não há), muitos moradores pensam em dar o fora do outrora charmoso bairro. Minha antiga vizinha na João Lira sonha em se mudar para Botafogo, desesperada com os caminhões da Sendas descarregando na porta do prédio `as 5 da manhã. As moças da academia que freqüento conversam entre si e trocam experiencias sobre a dificuldade de ainda se achar apartamentos habitáveis a preços pagáveis. A chegada do novo shopping é discutida apaixonadamente entre os contra e os a favor.

Eu já me mudei há dez anos para as grimpas do Humaitá, graças a Deus. Mas freqüento regularmente meu antigo bairro, onde ainda conheço o pessoal das lojas, livrarias, restaurantes, e revejo amigos. Pois é. Também faço meu turismo interno.