sexta-feira, dezembro 22, 2006

Feliz Natal


No Natal de 1998, quando eu ainda escrevia uma coluna semanal no jornal 'O Dia', publiquei esta cronica sobre a data. Ainda está valendo. Feliz Natal pra todos e todas!


FELIZ NATAL

(publicado em 24/12/98)

Dizem que Assis Valente recém-chegara da Bahia e vivia solitário numa pensão carioca, às voltas com seus fantasmas, quando compôs a marchinha “Boas Festas” _ aquela que diz “eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel/ bem assim, felicidade/ eu pensei que fosse uma brincadeira de papel...” Assim também Charles Dickens, recluso em seu quartinho londrino no século passado, escreveu a famosa história do avarento que recebe a visita dos três espíritos de Natal, história que até hoje serve de mote para filmes natalinos de todas as procedências. E o que dizer de Machado de Assis, o pessimista-mor da nossa literatura, “mudaria o Natal ou mudei eu?”

Tudo indica que uma certa tristeza é necessária para melhor se traduzir o chamado espírito de Natal. Trata-se afinal de comemorar o nascimento de alguém que já se sabe que terá um fim trágico, por mais que este final seja simbólico para o renascimento da humanidade. E enquanto lá fora o furor consumista parece se renovar a cada ano, com ou sem crise na economia, aquele travozinho de melancolia teima em se intrometer na festa. De quem tem consciência, naturalmente.

Natal bonito era o da nossa infância, justamente porque a gente ainda não sabia que era uma data triste. Depois de adultos, a primeira decepção é justamente a de sabermos que nunca mais será igual. Daí em diante, ficamos tentando reproduzir para as crianças da família o velho clima, do mesmo jeito que nossos pais, tios e avós também tentaram reproduzir pra nós os natais deles. E está formada a cadeia sentimental de enganos, que fará com que nossos netos carreguem esta mesma ilusão para as próximas gerações. Até quando?


De qualquer forma, e isso é de lei, embrulharemos alguma esperança pra presente, com a melhor das nossas boas intenções. Reuniremos a família, quem ainda tem, e os amigos, aderentes e conhecidos. Vamos fazer de conta que estamos perdoando tudo e nos reconciliando com o mundo _ e estaremos mesmo, pelo menos nas 48 horas que envolvem a data. Botar o sapatinho na janela do quintal, cantar jingle-bells, seguir em frente, antes que 99 nos alcance... Um feliz Natal pra vocês também.

6 Comments:

At 2:51 AM, Blogger Cyntia Monteiro said...

o meu natal nunca foi triste como o de Assis, nem alegre como o de criança. é apenas a sensação de que esta chegando o fim de mais um ano mal vivido. só um feriado.
de qualquer forma, feliz natal pra você ou bom feriado, que seja...
abraço.

 
At 8:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Ai,ai.Fazer de conta que estamos perdoando td e tds foi ótimo...
Feliz Natal e Feliz Ano Novo pra td mundo de qualquer maneira hehe.

Crisssssss

 
At 11:19 PM, Blogger Luiz Antonio said...

Oi, Joyce!
Não vou falar do Natal, mas da foto mais maravilhosa,do Rio e do Redentor,que eu já vi! É sua? Olha bem: o Cristo abençoando a cidade Maravilhosa, que nesse início de noite, ainda com algum sol por entre as nuvens lá atrás, e nas luzes e sombras do morro da Urca, criam uma atmosfera meio "apocalíptica", algo como Deus e o Diabo na mesma terra do sol, ou seja, a mais perfeita tradição do Rio de Janeiro.
Feliz Natal!
(onde foi parar a zona da mata? deletou?)

 
At 7:19 AM, Blogger André said...

Meu comentário é "off topic" mas feliz natal de qq maneira. Gostaria de saber se ainda é possível encontrar seus discos gravados em 87 e 88 respectivamente com músicas do Tom Jobim e Vinicius. Títulos:
"Tom Jobim Anos 60" e "Negro demais no Coração". Será que eles sairam em CD?

 
At 7:51 PM, Anonymous Anônimo said...

Joyce, querida!

Ganhei de presente de Natal um CD maravilhoso no qual voce canta: Especiaria, do Flavio Chamis. Este é um dos CDs mais bonitos que conheço (e olhe que conheço muitos e muitos mesmo). Tudo neste CD é harmônico, as letras, as musicas, a banda, a capa - linda, as faixas instrumentais e especialmente as que voce coloca a tua voz de forma tão perfeita. Não resisti e vim aqui te escrever, e agradecer este presente que voce, talvez mesmo sem saber, nos deu. Faz tempo que eu não chorava gostos lá do fundo, apenas por estar tocada com a beleza pura da música e das letras. Ou, como diz uma delas: "Caminhei mil léguas, só pra te dizer, que eu apaixonada não me esqueço de voce(s)!

Michelle Wellington
welmichelle@yahoo.com

 
At 3:34 AM, Anonymous Anônimo said...

Feliz Natal Joyce.

Me desculpa mas é possível que o meu português não seja o melhor. Eu sou nascido em Bogotá, Colômbia mas cheguei aqui em Miami para descobrir ao Brasil com tudo há seis anos. A minha paixão pela boa música brasileira é já legendária para as pessoas que me conhecem. Estou em dívida com você e tantos excelentes artistas brasileiros que ainda gravam arte, mesmo que as gravadoras (ao final de contas corporações) só queram ruídos lucrativos, não músicos. Mas eu preciso hoje agradecer você pela alegria que eu recebi da sua música, da sua harmonia e da companhia dos seus músicos nessas gravações.

Talvez eu já perdi o interesse de explicar para os outros porque eu fico ouvindo e procurando os seus discos, pequenos grandes descobrimentos sem os quais a minha vida seria muito menos do que simples transcorrer. Uma vez no jornal Le Monde Diplomatique eu li que a música pode ser a arma do futuro, do mesmo jeito que o Manuel Castells escrevia há pouco tempo no mesmo jornal sobre os blogs como resposta à mídia tradicional, possívelmente como reconstrução de novas formas políticas na luta pela independência dos poderes hegemónicos. Então, aquele diálogo, artista e fã, poderia ser insuspeitosamente parte de um processo de liberação conjunto.

De qualquer jeito, muito obrigado por manter viva a sua arte. Eu desejo vocês muito sucesso no ano 2007. Espero poder ver vocês aqui nos EUA e tirar uma foto de novo como naquela memorável noite no clube Satalla em Nova York.

CHRISTIAN

 

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