sábado, março 03, 2007

baluartes

Da esquerda para a direita, Miele, Carlos Lyra, eu, Menescal, Wanda Sá e Marcos Valle (se é que alguém aqui precisa de apresentação...) Esta é uma foto da edição 2006 da nossa festinha anual de Natal, na casa da Wanda _ ou o Natal da bossa-nova, como é chamado entre nós. Não difere muito de outras reuniões parecidas: cada casal (pois vamos geralmente aos pares) leva um vinho, um prato de alguma coisa, fala-se muita besteira, dá-se muita risada, e é isso aí. Só amigo oculto a gente ainda não faz. Mas amigos somos, e muito.

Com todos os da foto, sem exceção, já trabalhei muitas e muitas vezes, e com os compositores fiz parcerias que foram gravadas em momentos distintos de vida e de carreira. Isso faz de mim uma bossa-novista? Talvez sim, mas é preciso que se faça a distinção: de minha parte, eu me considero na categoria de 'continuadora' _ uma seguidora, melhor dizendo _ de alguma coisa que eles inventaram nos anos 60, quando eu ainda estava no ginásio, sonhando em algum dia fazer música. Fui completamente adotada pelo grupo vários anos depois, o que muito me honra, pois ao se tornarem meus parceiros, e/ou gravarem minhas músicas, estou sendo por eles reconhecida como igual. Mas ainda assim, foram eles (e Tom, Vinicius, João, Luiz Eça, Sylvinha, ça va sans dire) que me serviram de modelo para que minha música existisse e fosse do jeito que é. Ponto pacífico.

O que me leva a essas considerações é o caso agora célebre do carnaval 2007, onde Beth Carvalho (que é da minha geração, e em sua infancia musical também mamou no peito da bossa-nova) e Nelson Sargento, por razões diversas, deixaram de desfilar na Mangueira. Ela por não ter lugar no carro dos baluartes da escola, ele por não ter recebido fantasia para a mulher e o filho desfilarem a seu lado. Quem é baluarte e quem não é? e que importancia isso tem? Beth, grande sambista de valor inquestionável, é mangueirense ilustre, como Alcione também é, só pra dar um exemplo. Nelson é um baluarte, viveu e participou de conquistas e derrotas pré-históricas da escola, como Monarco na Portela e Dona Ivone Lara no Império. Que nenhum dos dois tenha desfilado é mesmo lamentável. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Assim como eu estou aí em cima, na foto do Natal da bossa-nova, completamente `a-vontade entre meus amigos e parceiros, sabendo muito bem que posso até ser uma componente ilustre, mas os baluartes são eles.

6 Comments:

At 4:54 PM, Anonymous Anônimo said...

linda foto...

 
At 11:59 AM, Blogger Bernardo Barroso Neto said...

Oi Joyce!
Adorei essa foto, como você falou, só tem baluarte aí. A única coisa que eu não concordo é que você também é um baluarte, pelo menos pra mim.
Não importa se você é uma bossa-novista, uma pós-bossa-novista, ou qualquer outra coisa, você faz parte da história da nossa música.
Na minha opinião é a melhor cantora do mundo na atualidade.

 
At 10:42 PM, Blogger Angela Garcia said...

Ai meus tempos de ginásio... Início dos anos 60... Johnny Alf, Wanda(vagamente)Sá, Menescal, Silvinha, Tom, tantos!!! Alguns ali em cima parece que nao viram o tempo passar...

 
At 10:49 PM, Blogger Artur. said...

Uma coisa que preciso dizer é que me apaixonei por você! hahaha
Tenho 18 anos e trabalho em uma loja de discos e lá encontrei um vinil chamado 'Joyce canta Tom Jobim'...

Só digo que sinto calafrios até agora quando 'Corcovado' começa a tocar na vitrola...

Demorei pra te encontrar, mas agora não largo mais não...
Felicidades!

 
At 1:54 PM, Anonymous Anônimo said...

Baluartes não. Heróis. Eu assisto aquele filme "Coisa Mais Linda" e fico maravilhado com o diálogo tão íntimo entre o Menescal o Carlos Lyra. Me preocupa a continuidade, não tanto da bossa-nova como da percepção que vocês, "os baluartes", transmitem na música, na sensibilidade, na elegância e na harmonia. Quem vai saber valorizar essa complexidade sem o nível de instrução mínimo para entendé-lo ? Até o vocabulário pode chegar até ser incompreensível. Ao final de contas o Octavio Paz já fizera a advertência: "La permanencia de las artes ha sido siempre obra de una minoría".

Por enquanto aguardo aquele dia feliz em que eu possa ver "Os Baluartes" vivos e saibam que na Colômbia também existem jóvens fãs até a morte da bossa-nova.

Um abraço.

 
At 9:12 PM, Anonymous Anônimo said...

Revendo Amigos...
foi assim que me senti ao ver essa foto...
Quando se gosta muito de um artista, parece que a risada é comum, que os casos são antigos, que as músicas são sempre novas e sem tempo nenhum entre a gente...

 

Postar um comentário

<< Home