quinta-feira, junho 05, 2008

quintessencia

Um pequeno post pra falar de J.T. Meirelles, pessoa que conheci muito pouco, quase nada, mas cuja música fez e faz parte de minha formação musical. Ontem ficamos sabendo de sua passagem, já meio prevista, pois ele se achava bastante doente. É mais uma grande perda para a música criativa do Brasil, especialmente na área do samba-jazz, que recentemente já havia perdido Durval Ferreira. Triste coincidencia: o Brasil perde, para a mesma doença e no intervalo exato de um ano, Meirelles e Durval: os dois, compositores de grandes clássicos no gênero, menos reconhecidos do que deveriam ter sido _ principalmente Meirelles, pois sua magnífica obra era composta apenas por temas instrumentais. Como o Brasil não conhece mesmo o Brasil, claro que o pessoal não se dá conta disso. O obituário que li hoje no jornal sobre Meirelles foi pífio, destacava sua carreira como músico acompanhante, e só. Tenho certeza de que a editoria do primeiro caderno desconhece este grande artista e sua real importancia. Não sabem o que perderam.

Se você não está ligando o nome `a pessoa, pode começar lembrando da introdução dos sopros para 'Mais Que Nada', na gravação original de Jorge Ben _ introdução criada pelo arranjador Meirelles, e que acabou praticamente fazendo parte da música. Ouça seus primeiros discos, relançados pela Dubas, com temas clássicos do samba-jazz como 'Quintessencia', 'Nordeste', 'Contemplação', 'Aboio'. Ainda estão em catálogo aqui mesmo, o que é uma maravilha. No Japão e na Europa, jamais deixaram de estar. E ele ainda faria outros mais recentes, igualmente bacanas.

Tutty, que o conheceu bem mais que eu, volta e meia lembra de histórias engraçadas que os dois viveram juntos, como a da gagueira, por exemplo. Meirelles era gago, assim como o Tutty também é, e sempre que o encontrava, perguntava: "vo-vo-você j-j-já re-re-resolveu a sua? E-e-e-eu j-j-já re-re-resolvi a minha!" O encontro dos dois com Milton Banana no antigo Rio Jazz Club também é uma historinha deliciosa, que qualquer hora dessas eu conto aqui.

Por enquanto, fica aqui a lembrança do som deste talentoso flautista e saxofonista, excepcional arranjador, e acima de tudo, compositor brilhante de temas que, fosse ele americano, fariam parte de qualquer 'real book' dos grandes standards do jazz.

1 Comments:

At 11:26 PM, Blogger Cyntia Monteiro said...

Exatamente um mês atrás eu ganhei uma flauta e o meu pai, que é super ligado em grandes músicos logo me mandou várias coisas do Meirelles. No "chega de Saudade" fiquei sabendo que era o líder do Copa 5, mas só mês passado conheci o tanto que coisas boas que ele fez.
Hoje de manhã meu pai me deu a notícia de que Meirelles foi dessa pra melhor, através de um e-mail com uma nota que citava logo no título a famosa "mas que nada".
As pessoas que fizeram a diferença na música brasileira estão indo embora... Tomara que a boa música permaneça. E eles também...

 

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