segunda-feira, abril 13, 2009

sucesso

Sucesso nem sempre são as flores em vida.

Eu mesma já escrevi isso antes,  em 1997, no meu livro "Fotografei Você na Minha Rolleiflex': "coisa mais fluida, esse tal de sucesso: assim como vem, vai; de repente volta de novo, vai outra vez, torna a voltar, como as luas e as marés. Pior pra quem esquenta a cabeça com isso."

Sucesso, no início dos anos 80, quando estourei nacionalmente com 'Clareana', era ver sua música tocada nas rádios, o que, no caso desta canção em particular, aconteceu espontaneamente, logo após minha apresentação no festival da Globo. Foi como um rastilho de pólvora, os ouvintes ligando direto para as rádios, querendo ouvir aquela música que ainda nem saíra nas lojas _ e os programadores tiveram de correr atrás. Mas logo a seguir, ainda nesta mesma década, o que se tocava nas rádios passaria a depender integralmente de uma obscura prática chamada 'jabá', que consistia na compensação, financeira ou através da prestação de favores, por parte das gravadoras para as emissoras de rádio ou TV. Logo que assinei contrato com uma prestigiosa major, fui chamada para participar de um popularíssimo programa, e estranhei o baixo cachê que me fora oferecido, menor do que eu geralmente recebia antes de ter sido contratada. O executivo responsável por este departamento, sem grande finesse, cuidou de acabar logo com qualquer ilusão: "este é um programa que ainda paga. Os outros, nós pagamos para que você faça". Mais claro, impossível.

Quando decidi me tornar uma artista independente, no longínquo ano de 1983, eu sabia que o mainstream do sucesso não faria mais parte da minha vida. Foi uma decisão consciente, da qual jamais me arrependi. Hoje em dia é moda. Mas eu já sabia, desde então, que o modelão do sucesso pré-pago não teria futuro. Foi como adivinhar a crise financeira global antes que acontecesse _ estava na cara que aquele dinheiro todo não existia. Da mesma forma, aqueles discos feitos com orçamentos gigantescos, que nunca se pagariam apenas pelas vendas, estavam com seus dias contados. Alguns poucos ficariam ricos, outros muitos iriam tombar pelo caminho, mesmo tendo feito todas as concessões possíveis _  e eu não queria ser um deles.

Depois de muitos episódios que me comprovaram de vez a insustentável leveza do chamado 'sucesso', passei a enxergar essa palavra de outra maneira. Sucesso pode ser várias coisas. Muitas delas sei que alcancei, e me orgulho disso. Mas, principalmente, não esquecer jamais _ sucesso é sobreviver com dignidade, sem trair seu dom. 

8 Comments:

At 12:55 PM, Blogger Patrícia Mello said...

Olá Joyce, sou cantora e compositora de Porto Alegre/RS e super sua fã. Fiquei estarrecida com a comunidade do orkut que encontrei http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=72448&tid=2463801100236080826&start=1 onde tem vários links para donwloads free de seus álbuns completos. Não cheguei a acessar pra ver se esses links estão ativos, mas acho que seria bom vc dar uma conferida. Quero aproveitar para convidá-la a ouvir meu trabalho no www.myspace/patrciamello onde vc encontrará canções de minha autoria, samba-jazz, drum'n base...
Um grande beijo pra vc!!
Patricia Mello
patricmello@hotmail.com

 
At 3:46 PM, Blogger JoFlavio said...

Pois é.
E acabei de ler a lista dos melhores do ano, em todas as áreas televisivas, segundo o conceituado (sic)apresentador Fausto Silva. Aliás, algumas pérolas merecem destaque: melhor cantora, Ivete Sangalo; "melhor música", Victor e Leo. Portanto, o conceito de sucesso é ainda hoje mais relativo, em se tratando de sobrevivência com dignidade - sem trair seu dom. Jobim tinha razão:"A melhor saída para o bom músico brasileiro é o Galeão" - hoje, coincidência (?), Aeroporto Tom Jobim.

 
At 10:11 PM, Blogger Marcel said...

Joyce,

Fico feliz por saber que você se orgulha do seu "sucesso" e são pessoas como você que o mundo está precisando mais e mais, todos os dias.
O seu "sucesso" já foi o suficiente para te transformar em uma das maiores cantoras desse Brasil tão imenso. É isso que faz com que a cada dia eu aprecie mais sua obra e suas palavras sempre tão sensatas.

E que tudo seja simples...
Feito:
Clara, Ana e quem mais chegar!
Água, Terra, Fogo e Ar!

Beijo

 
At 7:13 PM, Blogger Bernardo Barroso Neto said...

Por isso que eu admiro demais músicos como você, Dori, Johnny Alf e tantos outros: por não fazerem concessões em suas músicas pra se tornarem sucessos. É muito melhor fazer o que gosta e ser admirado por ser um artista sensacional.
Parabéns pelo texto e por você ser assim!
Beijos

 
At 11:27 AM, Blogger Luiz Antonio said...

"Somente no dicionário a palavra SUCESSO vem antes da palavra TRABALHO".
Li isso dia desses, nunca tinha ouvido falar dessa "grotesca" mas real forma de se ver o !sucesso de verdade! _que é bem diferente do sucesso que vc descreveu_ do mundo do jabá, dos discos de ouro, platina e entrega do troféu pela mais amada, pela mais gostosa, pela mais rica, pela mais tudo de bom, no domingueiro da vez.

 
At 10:49 PM, Anonymous Sergio Santos said...

"Pobre de quem acredita na glória e no dinheiro para ser feliz".
Bjs.
Sérgio

 
At 10:48 PM, Anonymous Anônimo said...

sucesso é vc continuar fazendo cada vez melhor e mais consciente aquilo que sempre fez...

A propósito,

alguém por acaso já lhe disse que além de cantar muito bem, vc tbm toca maravilhosamente?
hahahahahahahah
sucesso sempre!

 
At 7:41 PM, Anonymous Túlio said...

nossa se eu fosse falar sobre um monte de gente que fez mais e mais concessões naqueles anos 80 e 90 e hoje estão aí pelejando para recuperar o que perderam pelo caminho. cala-te boca.

 

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