sábado, maio 23, 2009

Rodrix

A foto acima é do show de 40 anos de carreira do nosso amigo Ricardo Vilas, ano passado, no teatro Maison de France, do qual foi feito um DVD. Aí estou eu ao lado da lindinha Kay Lyra e de três antigos companheiros do grupo vocal Momento4uatro: Mauricio Maestro, o próprio Ricardo e Zé Rodrix (faltou David Tygel, que estava lá, mas não aparece na foto; ao fundo, o percussionista Beto Cazes). Foi um momento alegre, onde nos revimos, demos muita risada e lembramos nossas aventuras no final dos anos 60, quando paralelamente fazíamos faculdade e iniciávamos carreira na música.

Conheço esses caras desde quase a adolescencia, quando eles terminavam o 2º grau no Colégio de Aplicação e começavam _ começávamos todos _ a tocar em shows amadores, de e para estudantes. Os meninos do Momento4uatro eram meu grandes companheiros, sempre nos apresentávamos juntos em festivais e shows, e eles gravaram participação no meu primeiríssimo disco, numa 'Ave Maria' em latim, de Caetano. Também se tornaram meus parceiros, e algumas composições nossas aparecem no único LP deles. Em 1968 lá fomos nós mais uma vez, com nossos amigos Sidney Miller e Gutemberg Guarabyra, fazer um espetáculo no Café Teatro Casa Grande, direção de Paulo Afonso Grisolli, chamado 'Catiti, Catiti' (não me perguntem a razão deste título). Ali fazíamos nossas primeiras experimentações musicais, desafiávamos ingenuamente os militares e principalmente, nos divertíamos muito. Na última noite do show, Sidney cantou o tempo todo invisível, escondido na cabine de luz, realizando sua enorme timidez. E Gut fez uma performance maluca com sua canção 'Margarida', vencedora do FIC e cujo sucesso ele já detestava, que culminava com a quebra do violão, à la Sérgio Ricardo _ instrumento que lhe fora emprestado, em confiança, por sua namorada da época, Silvia Sangirardi. Tantas lembranças.

O grupo não duraria muito, cada integrante já tinha seus planos, mas o ponto final se deu com a prisão de Ricardo, envolvido na luta armada e posteriormente trocado pelo embaixador americano, numa história que hoje todos conhecem de livro e filme. Foi para o México, depois para Paris, onde faria carreira de músico em dupla com sua então mulher Teca Calazans. Mauricio, que sempre gostara de trabalhar com grupos vocais, iria se especializar brilhantemente nisso _ e dez anos depois fundaria o Boca Livre, que incluía também o velho companheiro David. E o Zé, este era já o Zé _ Rodrigues Trindade, nosso sempre Rodrix, que acaba de ser guindado ao andar de cima, como se diz.

Zé era uma figuraça, inteligente, engraçado e bom de palco. Nos seus tempos de Momento4atro fomos parceiros em algumas canções, que nunca deram certo, nem eram para ter dado. Nossas afinidades eram muitas no quesito amizade, mas poucas no quesito música. O tropicalismo foi libertador para ele, que sempre gostara da idéia de se tornar um artista pop. Por isso o nome Rodrix (como Hendrix). Artista pop ele foi, especialmente com os amigos Guarabyra e Sá (Luiz Carlos), num trio de enorme sucesso nos anos 70, do qual fui testemunha de todas as fases, desde o começo até a transformação do trio em duo.

Minhas duas primeiras filhas, Clara e Ana, e Marya (filha dele) nasceram na mesma época e cresceram juntas, praticamente como primas, a partir de minha longa amizade com Lizzie Bravo, sua primeira ex-mulher. Hoje as meninas se tornaram cantoras (Marya é cantora e atriz de musicais) e estão todas na grande batalha pelos sonhos e pela sobrevivencia na selva. Zé teve outros casamentos e outros filhos, fez carreira na publicidade em São Paulo e poucas vezes nos vimos nos últimos anos. A última vez foi exatamente a noite em que esta foto foi feita (por Fernando Rabelo), quando rimos muito ao lembrar as músicas hilárias que Zé e Mauricio inventavam nos intervalos dos shows. Um último encontro bastante feliz. 

A vida passa muito rápido.



7 Comments:

At 3:54 AM, Blogger Paul Constantinides said...

Oi Joyce
Fazendo uma pesquisa sobre o Zé Rodrix fiquei surpreso em ver
que vcs fizeram juntos “De Luzia, Ana e Maria”. Muito interessante
esta proximidade entre vocês naqueles tempos.
Ultimamente teu foco no passado tem nos dados informações super
Interessantes.
Abs/bjs
Paul

 
At 11:50 AM, Blogger JoFlavio said...

Joyce

Eu conheci o Rodrix no Som Imaginário, um grupo meio mineiro, que você sabe, foi idealizado por Tavito para acompanhar Milton Nascimento - ele já precisava de uma banda cativa. E tinha também o Fredera, Wagner, Luis Alves, Robertinho e Naná. Aliás, no início da década de 70, vi o grupo e Milton num show memorável no Teatro Gazeta (Gazetinha?), São Paulo.

 
At 5:05 PM, Anonymous Túlio said...

esta notícia me deixa muito triste, levei um certo tempo pra postar algum comentário.
nada me chateia mais do que quando grandes pessoas partem mais cedo pro andar de cima.
o zé ainda tinha muito o que fazer por estes lados.

 
At 12:35 AM, Blogger pituco said...

zé rodrix...agora está do tamanho da paz.

nos conhecemos em 81 e trabalhamos juntos em várias situações...inteligente e engraçado, com certeza...

é isso aí
valeô, zé

 
At 12:54 AM, Blogger Lizzie Bravo said...

ainda tá difícil de acreditar...

 
At 5:10 PM, Blogger Luiz Henrique said...

na noite em que o Zé Rodrix subiu estav vendo a participação dele no programa do Moska no Canal Brasil e inclusive mandei um e-mail para um grupo de discussão sobre canção brasileira sobre algumas colocações dele. E no dia seguinte soube da notícia.
Pra alguém que só precisava de seus amigos, discos e livros, ele deve estar bem.

 
At 4:53 PM, Blogger Unknown said...

Oi, Joyce. Que boas lembranças! Bom saber que voc~e as guarda com carinho. Sidney, Momento4, Grisolli... E o violão da Sílvia (que na verdade era meu; cansei de pedir que me devolvesse, como não houve jeito e ela me emprestou naquela noite, resolvi a questão. nem meu nem seu... hehe). Quanto a Margarida, quem disse que destesto o sucesso dela? Detesto o que a Philips fez com minha gravação, "esquecendo" de incluir na mixagem parte da banda (metade da música solo com baixo a bateria). A gravadora havia ganho os dois grandes festivais: Record e Internacional. O da Record, com Ponteio, tinha como autor o filho do diretor artístico da gravadora... Águas passadas. Mas, continuo achando a melhor música do Festival -desde que interpretada corretamente. Para que isso aconteça, sugiro ouvir a regravação do Roupa Nova, recentemente lanaçada (me fizeram esta surpresa). Finalmente, Margarida pôde ser entendida - e resgatada; Um super beijo! Guarabyra

 

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