terça-feira, junho 02, 2009

a vida é viagem

Pra quem trabalha com música, a vida se passa em grande parte em aviões e hotéis. Por isso mesmo quando estamos em casa, pouco saímos. Queremos curtir o ambiente que construímos, nosso silencio, a imobilidade, o chão. Viajar tanto tem suas vantagens, pois não há rotina em nenhum momento. Vamos também aprendendo alguns truques para tornar as viagens mais confortáveis, como levar a bagagem do tamanho exato do que se precisa (chegamos quase à perfeição nesse ponto, cada um leva sua mala e seu instrumento, e nada mais. Uma mala por pessoa), deixar espaço na mala para o travesseiro (importantíssimo, garantia de noites melhor dormidas), evitar comer e beber além do necessário, coisas assim. Tem funcionado bem e amenizado o stress de estar sempre em algum lugar que não é o nosso. Embora a gente também procure tirar o melhor de cada viagem, conhecer lugares e pessoas, ver o que há para se ver, e de quebra, estar trabalhando com dignidade e alegria. Não dá pra negar que por este lado é ótimo.

Quando acontece uma tragédia aérea como esta do avião da Air France _ rota que já fizemos milhares de vezes, e que há apenas um mês atrás foi feita por nossa filha mais nova com a família toda _ a angústia é maior do que o normal. Sabemos que estaremos sempre no ar a todo momento e que nossas vidas estão nas mãos de Deus. Sabemos também que não podemos abandonar o trabalho, que não para de crescer fora do Brasil e continua cada vez mais escasso por aqui. Sabemos que quando é a hora, é a hora; quando não é, não é. Mas ainda assim não podemos deixar de pensar que daqui a três semanas estaremos voando de novo, Canadá via Estados Unidos. Sempre dá um arrepiozinho.

Temos ainda na lembrança o momento difícil pelo qual passamos em 2000, voltando da África do Sul. Eu, Tutty, Mauricio Maestro, Teco Cardoso e Beth, nossa produtora, tínhamos uma escala em Buenos Aires. A estada em Johannesburgo tinha sido uma experiencia inesquecível. Mas era viagem cansativa e estávamos loucos para voltar logo. Ao invés de dormir em Buenos Aires, como tinha sido agendado, resolvemos entrar num avião da Varig que vinha para o Rio. Foi decisão de último minuto, sobraram 4 lugares no voo e fomos (Teco pegou outro voo pra SP). Além de nós, no mesmo avião, o querido Augusto Boal e alguns músicos da banda de Maria Bethania, que havia feito show em Buenos Aires.

O arrependimento viria logo. Com mais ou menos uma hora de voo, caímos numa zona de turbulencia, onde o avião chegou a tombar para o lado duas vezes. Era uma das famosas tempestades magnéticas, que, depois soubemos, são normais ao sul do Brasil. Agora, parece que são normais também em outras áreas, e vêm se tornando cada vez mais frequentes. A turbulencia durou cerca de uma hora, mais que uma eternidade.  Instalou-se o caos dentro do avião, com pessoas gritando em pânico, a comissária caindo no chão (não houve serviço de bordo), o suplemento de saquinhos de vômito (sorry...) acabando, enfim, tudo indicava que não sairíamos bem dessa. 

Pois saímos. Conseguimos manter a calma, felizmente (pois até pra morrer há que se manter alguma dignidade, não é mesmo?) e afinal a aeronave se estabilizou e não houve consequencias mais graves. A perna bambeou aqui mesmo, já no Tom Jobim, quando as fichas caíram. Mas aí já estávamos em terra firme de novo. A lembrança ficou, e volta sempre que ficamos sabendo de algum caso desses. Principalmente tendo uma longa viagem logo ali.

Imagino o sofrimento dessas pessoas e suas famílias. Deus os abençoe e nos proteja nas próximas viagens.
 

4 Comments:

At 12:25 PM, Blogger Paul Constantinides said...

Amen!
Que assim seja.

abs
e compartilho deste pesar pelas perdas ocorridas.

paul

(q para ir ao Brasil ver amigos, familia e tudo o mais, matar a saudade; somente voando pelas asas de uma aviao)

 
At 5:09 PM, Blogger Luiz Antonio said...

Pois é Joyce,
Como ja disse em post anterior, é por causa disso que não encaro ir até o Rio ou Sampa pra te ver....me gela o intestino; Pensei que para vocês isso soasse como ir até a padaria, mas vejo que sempre é complicado.
Em agosto devo ir ao Rio, minha filha de oito ano, que naõ foi ainda, embora minha familia esteja aí, se recusa a embarcar ou permitir que eu embarque. Só de ônibus, diz ela, ou carro.
Hj, por coincidência ouvi na Cultura que um acidente na 116 (meu caminho terrestre até o Rio) vitimou montão de gente, quando dois caminhões colidiram, invadiram a pista contrária e bateram em um ônibus com 20 e tantos dentro... O ônibus nem tinha nada haver com o acidente e foi fulminado. Quando vejo isso, penso mesmo que NA HORA DE CADA UM, SÁO PEDRO PUXA AS CORDINHAS QUE NOS MANTÊM COMO MARIONETES A SERVIÇO DE DEUS E POEM FIM A NOSSA APRESENTAÇÃO AQUI NA TERRA. daí, por incrivel que pareça eu acabo vendo o quão sem sentido é esse meu medo de avião. Negócio e ter fé e convicção que se não ´´e a hora, não é mesmo, mas se for...basta estar vivo em qualquer lugar do mundo, até mesmo dormindo em casa (uma benção!), mas os sustos aéreos só mesmo que anda de aviãoé que pode sentir.
Mas, falando do lado mais leve desses "medos" que todo mundo tem, eu imagino que numa viagem que eu sonho um dia, RIO/PARIS, com a família toda, vou ter que arrumar um meio de ir sedado...

 
At 12:57 AM, Anonymous Anônimo said...

Como já havia citado antes, meu marido trabalha direto com a manutenção de aeronaves. E acredite, joyce, ainda é um dos meios de transporte mais seguro que existe. Levante uma estatística e verá.
Vai na fé e se tiver que acontecer algo, é porque o momento é chegado. Ainda assim algo bem intuitivo me diz que vc estará sempre segura em suas viagens. Continue serena como descreveu nas palavras acima.
Velho ditado funciona mesmo:" quem canta os seus males espanta!" (rs)

 
At 8:45 PM, Blogger Marcelo Nicolau said...

Joyce,
Sou seu fã e você está em minhas orações!
Super-beijo!
Marcelo Nicolau

 

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