segunda-feira, março 26, 2012

Martinha

Hoje partiu uma de nossas amigas mais queridas.

Martinha (Marta Strauch) era artista plástica por vocação (com muitas mostras no currículo), compositora bissexta (chegou a ter músicas cantadas por Luhli e Lucina e Alaíde Costa, foi parceira de Luiz Carlos Sá, Lucina, Xico Chaves), ilustradora de profissão (ultimamente, na Folha de SP). Foi ela quem fez toda a arte gráfica do meu livro, 'Fotografei Você na Minha Rolleiflex', num trabalho sutil e delicado, como era próprio dela.

Martinha era do tipo mignon - era o que nos Estados Unidos as pessoas chamam de 'petite', graciosa e 'pouquinha'. As lembranças se atropelam quando penso nela: em NY, fazendo seu mestrado em arte e ganhando a vida, ora fazendo um voz-e-violão num bar do Soho chamado Amazonas, ora posando nua para os colegas estudantes de arte da NYU; nos inúmeros momentos engraçados que vivemos juntas, ela com seu humor ácido de sempre, que não a abandonou nem diante da doença; as temporadas em Filgueiras (de onde vem a foto acima, tirada por nossa também amiga Lizzie), as longas conversas ao telefone; os réveillons que passamos juntas aqui em casa, vendo os fogos de longe; todas as confidências que trocamos, alegrias e tristezas, ela sempre torcendo por mim com sinceridade, e eu por ela; a alegria de vê-la - já doentinha, mas ainda cheia de esperança - na festa de lançamento do meu programa; o quadro dela na parede da minha sala.

Éramos amigas desde sempre, e quero lembrar dela como era quando esta foto foi tirada, ainda no início dos anos 1980. E posto aqui uma linda mensagem que acabo de receber de outra amiga de muitos anos, Luhli:

Cada pessoa querida que se vai nos deixa uma herança, em seu modo de encarar a vida, em talento e personalidade.
Quando a gente toma consciencia dessa herança, percebe uma riqueza enorme por dentro.
A coragem de um, a paciencia de outro, iniciativa, ternura, sabedoria, e assim vai.
A gente vira elo numa imensa corrente, que vem lá dos antepassados, e não acaba nunca.
Marta me deixou de presente a chispa do humor apesar da tristeza, o talento precioso
e delicado, em contraponto com a inteligencia critica.
Grande Martinha...

7 Comments:

At 12:42 PM, Anonymous Maria Augusta Bittencourt said...

Hoje de manhã pensando na Martinha tomei consciência dessa herança. O que fica. Uma síntese/ essência, livre dos tempos e contratempos da vida cotidiana.
Para mim, ela deixou uma marca de altivez e garra nas lutas pela vida, a arte como um norte sempre, a amizade, a vivência da dimensão espiritual. sem esquecer o que Luhli colocou, o impagável senso de humor crítico.
saudade!
Salve a Martinha!

 
At 7:42 PM, Blogger Lizzie Bravo said...

Oi Joyce, fiquei tão feliz de você ter postado essa foto! Estava pensando exatamente nela, mas achar no meio das milhares de fotos que tem aqui em casa ia levar muuuito tempo. Elaine e eu falávamos sobre essas idas a Filgueiras ontem no hospital, pouco depois de receber a notícia. Cecilia e eu estavamos com D. Lourdes nesse momento. Tanto suas palavras quanto as da Luhli refletem muito do que todos os amigos próximos sentimos. Puxei a Canção da América hoje no velório e paguei o mico de esquecer a letra, que sei de cor ha uns 20 anos pelo menos... Cantar chorando fica mais difícil. Estamos todos juntos no nosso amor pela Martinha e na saudade que ela já deixou.

 
At 8:02 AM, Blogger pituco said...

joyce e tutty,

posso imaginar a dor quando um amigo querido se vai...o amigo faz a viagem, mas a amizade continua...força pra todos...

que descanse em paz...

 
At 9:06 AM, Anonymous Anônimo said...

Marta Strauch,
Esteve aqui no final do ano passado, trocamos idéias sobre filmes, livros, ideologias, passado, presente, futuro, vida e morte. O primeiro papo adulto que travei com ela. Sempre companheira dos jovens que habitavam o abençoado prédio no JD. Botânico onde de certa maneira descobri-me como jovem também. Martinha foi uma personagem importante na busca de minhas raízes durante a adolescência de férias no Rio de Janeiro e tê-la aqui em casa foi um laço bom de se reatar, mantivemos contatos pela internet desde então e fiquei devendo à ela uma cópia de um filme (Love And Other Drugs) para que ela levasse à seus alunos. Tivemos uma curta conversa sobre suas condições e a admirei pela coragem com a qual levava tudo. Ela estava pronta, feliz e serena e pelo que vi no texto, me parece que sempre foi assim.

 
At 11:23 AM, Blogger Rafael said...

Que a Martinha descanse em paz. Hoje também soube através do blog Notas Musicais, do crítico musical Mauro Ferreira que a grande cantora de choro, Ademilde Fonseca, também se foi:

http://blognotasmusicais.blogspot.com.br/2012/03/rainha-do-choro-ademilde-manteve.html

 
At 12:08 PM, Anonymous Maria Helena Flores Guinle said...

Joyce, você não me conhece mas temos em comum a amizade por nossa amiga Martinha.
Ela nos deixou a lembrança de seu fino humor e a firmeza de ter traçado as delicadas linhas e formas de sua arte de ilustradora até os ultimos dias de vida.
Um abraço

Maria Helena

 
At 5:29 PM, Blogger joyce said...

Queridos todos, que bom que a Martinha esteja tão presente, tão viva em nossa memória. Vamos manter essa memória acesa, com o melhor dela, sempre!

Tomás, é você, filho do Sá e da Silvana? Vi seu blog e adorei os textos, vamos ter conversas de adultos também. Mas sem facebook, que eu não uso.

 

Postar um comentário

<< Home