segunda-feira, setembro 10, 2012

Eu e o Príncipe (do Samba)

Um rápido post para saudar Roberto Silva - o Príncipe do Samba, como ficou conhecido - que recém nos deixou, aos 92 anos. Tive a alegria de trabalhar com ele, nos idos de 1986 num projeto feito para a Funarte, chamado 'Wilson Batista - O Samba Foi Minha Glória". Gravamos um LP (sei que saiu em CD há uns poucos anos atrás, mas nunca vi) com sambas do grande Wilson, e depois saímos em turnê da Funarte por algumas cidades. No grupo, além de nós dois, apenas os violões de Mauricio Carrilho e João de Aquino.

Esta não foi uma turnê muito bem-sucedida, pois os shows eram bem na hora dos jogos da Copa do Mundo, que estava sendo disputada no México. Portanto, tivemos pouquíssimo público. Mas os shows serviram para que eu observasse e apreciasse a classe e elegância de um dos últimos bambas daquela geração de sambistas. Lembro que no meu repertório havia pérolas como 'Acertei No Milhar', 'Louco', 'Mãe Solteira' (aquela que diz: "Maria da Penha, a porta-bandeira/ ateou fogo às vestes por causa do namorado'). E da parte do Roberto, delícias como 'Preconceito' ("eu nasci num clima quente/ você diz a toda gente/ que eu sou moreno demais"), 'Seu Oscar', e tantas outras.

(Lembro também de uma hilária passagem em SP, quando o jornalista da Folha nos entrevistou por telefone, e depois pediu para falar com o Wilson - falecido em 1968. Eram tempos pré-google, sim, mas de qualquer forma... A imprensa 'especializada' em cultura no Brasil - oh, céus!)

Vi Roberto pessoalmente pela última vez quando fui com o Tutty assistir à temporada do maravilhoso show 'O Samba é Minha Nobreza', criação de nosso padrinho Hermínio Bello de Carvalho, onde Roberto interagia com os ultra-jovens sambistas que hoje são os novos bambas, como Pedrinho Miranda, Nilze Carvalho e Pedro Paulo Malta. Na ocasião conversamos, e ele, supercarinhoso como sempre, me contava que sua magnífica forma física e vocal se devia aos exercícios que fazia e ao seu feliz casamento "com uma garota de 50 anos", nas palavras dele. Estava feliz.

Ainda o vi pela TV, bem recentemente, em plena forma aos 90 anos, apresentando-se ao lado do jovem grupo Casuarina. Uma alegria e um exemplo de música e vida.

1 Comments:

At 8:23 AM, Anonymous Anônimo said...

Na minha época de estudante costumava frequentar a Sala Funarte, em São Paulo, na Alameda Nothman. Assisti ali ao seu show com Roberto Silva, e soube do LP lançado pelo selo FUNARTE com o repertório do show. Na saída, perguntei pelo disco, mas não tinha pra vender. "A gente sabe que tem," responderam, "mas não veio nenhum pra cá." Então liguei pra minha tia, no Rio, e ela foi à sala Cecília Meireles, mas disseram que já estava esgotado. Fiquei chupando o dedo uns bons anos, até que a Fundação Itaú Cultural comprou o acervo da Funarte e relançou a série toda, incluindo o seu LP com Roberto Silva cantando Wilson Batista. É um disco muito bom, com algumas raridades radiofônicas, como uma entrevista que o próprio Wilson deu ao Almirante, brilhantemente resgatada no LP, fora as interpretações de mestre da "dupla". Só que é aquilo de sempre: quem comprou, comprou, quem não comprou não compra mais, nem mo Mercado Livre e a peso de ouro. Quanto será que está valendo a minha cópia? Wilson Libutti, Santos, SP.

 

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