sábado, novembro 03, 2012

amigos

Vimos o filme 'Gonzaga -  de Pai pra Filho', que está hoje em cartaz. É ficção, não documentário, e isso traz todas as possibilidades de a história contada não ser fiel aos fatos. Mas, pra minha surpresa, parece que foi, sim.

Não tive nenhuma proximidade com o pai, Gonzagão. Assim como Caymmi, era pai de amigo meu, e portanto pra mim seria sempre 'seu' Luiz (ou 'seu' Dorival, no caso do Caymmi). Engraçado, isso. É coisa de uma geração onde os pais eram chamados de 'senhor' ou 'senhora'. Hoje em dia ninguém mais trata os pais assim, pelo menos até onde eu saiba. Mas minha geração tem, ou tinha, essa formação que nos foi imposta, de demonstrar respeito aos mais velhos dessa forma. O que eles mesmos muitas vezes achavam besteira.

(César Faria, por exemplo, o maravilhoso violonista do Época de Ouro, reclamava comigo por eu chamá-lo de 'seu' César. Expliquei pra ele que ele era pai de meu amigo Paulinho, e portanto seria sempre 'seu' César pra mim. E ele: "mas o Dino, você chama de você!" Tive de explicar que conhecera Dino Sete Cordas antes de ter conhecido o Dininho, filho dele. Portanto me sentia à vontade para lhe dar este tratamento. Assim como o Tom era o Tom pra mim, bem antes de ser o pai do xará do filho do 'seu' César, Paulinho também. E Vinicius, então, nem se fala. Mas Vinicius não vale como exemplo: ele era sempre um de nós, fosse quem fosse esse 'nós'. Imagina se alguém iria chamar o Poeta de 'seu' Vinicius???)

Mas voltando ao filme: por ter tido intimidade razoável com Gonzaguinha, em vinte anos de amizade, tendo acompanhado suas alegrias e tristezas, amores e desamores, fracassos e sucessos, acabei me emocionando com a composição do ator que o interpreta, quase perfeita (já tinha visto um espetáculo teatral com outro ator fazendo, e estava perfeito também. Gonzaguinha talvez seja um tipo fácil de representar, ou ambos os atores são extraordinários, o que é mais provável).

O conflito central do filme, porém, são as desavenças e dificuldades de entendimento entre pai e filho, e disso não posso falar. Meu amigo Gonçalves (como eu chamava Gonzaguinha, desde que nos conhecemos) não tocava no assunto praticamente nunca. Falávamos de música, política, direitos autorais, filhos, amigos, casamentos, das coisas do dia-a-dia, mas ele nunca falava do pai dele, assim como eu também não falava do meu. Duas encrencas que não valia a pena esmiuçar. Hoje vejo que simplesmente fugimos dessa questão porque certamente nos incomodava. Os analistas é que sabem dessas coisas.

Mas ver o filme deu um travozinho de saudade desse amigo - o melhor jogador de jogo de memória que conheci (com incrível memória fotográfica, acho que hoje seria um craque em coisas digitais), companheiro nas lutas da Sombrás e do CNDA, frequentador do apartamento de Luizinho Eça, no Leblon (onde rodeávamos o piano ouvindo nosso amigo e mestre dar lições grátis de harmonia) e de algumas de minhas casas ao longo do tempo. No ano de 1986 rodamos o Brasil juntos, ele e eu, numa turnê patrocinada pela Sharp. No ano anterior, tínhamos estado em Moscou, numa grande trupe de artistas de muitos gêneros de música. Enfim, foi um longo convívio, que se interrompeu com a partida prematura dele. Quando é assim, a gente sempre fica pensando no que poderia ter sido e não foi, no que a pessoa estaria fazendo hoje, como estaria envelhecendo.

Mas é aquela velha história: "how to stay young? die young..."

PS- fiquei feliz em saber da bem-sucedida volta de Baby Consuelo, ou do Brasil, aos palcos, cantando seu repertório 'secular'. É uma grande cantora popular brasileira, que não precisaria estar no gueto da música evangélica, exclusivamente. Louva-se a Deus de várias maneiras, e uma dela é alegrando as pessoas, como ela sempre soube fazer. Benvinda!

6 Comments:

At 12:05 AM, Blogger Luiz Antonio said...

Bah, Joyce................................................................................................................................................minha mãe que adora Gozagão já havia me falado da difícil relãção entre pai-filho, há uns vinte e tanto anos atrás, tempo em que eu nem sabia o que significaria difícil relação pai-filho porque o meu , mesmo vivendo sob o mesmo teto que o eu, só fui me deparar com ele depois de meus trinta anos........................................................................e só mesmo o analista sabe de toda essa história. Encerrei ela há uns dois anos atrás, mas ele infelizmente não. Sigo melhor, mas ainda me incomoda muito e creio que o que aqui não ficou resolvido só mesmo em outra encarnação.

E quanto a Baby, quem canta "eu e a brisa" como elA não precisava ter pintado cabelo de verde, ser barrAda na disney e (Nem sabia) atacar de cantora religiosa....

 
At 1:12 PM, Anonymous Baptistão said...

Joyce, vi o filme no sábado e achei belíssimo. Que história forte a desses dois. A composição do Gonzaguinha é mesmo impressionante. Imagino para gente como você, que o conheceu de perto. Gonzagão teve uma vida intensa e deixou uma produção grandiosa, em quantidade e qualidade. Mas a perda prematura do Gonzaguinha foi uma lástima para a música brasileira. Quanta coisa bonita ele podia ter feito até hoje.

 
At 4:31 PM, Blogger joyce said...

Achei o filme belíssimo também. Espero que o Brasil todo veja - a obra do filho é muito bonita e só cresceria mais com o tempo, mas a verdade é que a do pai é pedra fundamental da cultura brasileira... O povo precisa conhecer as duas.

 
At 11:13 PM, Blogger Luiz Antonio said...

Por ter lido e falado de Gonzaguinha hoje, lembrei dele e de situações curiosas e engraçadas envolvendo sua música:
Era inicio dos anos 80, ou seja, a minha geração,safra anos 60,estava no auge da adolescência. Notem que estou falando de adolescentes dos anos 80, que chamavam pai e mãe de sennhor(a), de meninas que menstruavam aos quinze, algumas muitas casavam virgens e nós, os meninos, muitos também eram virgens e viviam toda hora indo pro banheiro, adulteravam idade na carteira de estudante pra ir a cine pornô.
Ouvir um cara cantando pra todos, no Globo de Ouro, na frente de nossas mães, que suspiravam num misto de alívio, cumplicidade, apaixonamento ( e idignação com os maridos), ouvi-lo cantando que "meninos folhevam revistas no antigo banheiro", "que ela deseja e você não deseja", ou o pior: "lembrando daquela tão santa qure é dona do seu coração" e tudo isso com aquela mãozinha desmunhecada dele...era VEXATÓRIO! ENRUBESCEDOR!
Gonzaguinha contava nossos segredos incontáveis de banheiro para nossas mães e pais! Aquilo que escondíamos a sete chaves estava revelado! Na hora das músicas deles sempre se dava um jeito de sair da sala pra ir tomar água , mas o pior era quando a "panela tava esquentando em casa" e a mãe aumentava o volume pro pai ouvir lá de dentro do quarto...Ai....essas liberações femininas, entregues por um homem, de bandeja...assim e ainda revelava nosso hábito secreto!
Tempos de inocência!

 
At 3:00 PM, Blogger pituco said...

joyce,

há anos que não assisto um filme inteiro...são fragmentos aqui e ali, na internet...mas, vejo que a galera aqui curtiu de verdade...tanto pelo lado pessoal afectivo, quanto pela película mesmo...então, tentarei assistir...

abrsonoros

 
At 10:38 PM, Anonymous André said...

SÁBIAS PALAVRAS (para variar).

Gonzaguinha é um dos meus ícones na MPB do meu tempo - anos 70 para cá. Gonzagão curto mais como compositor.

O MÚSICO ERA UMA FERA, COMO OUTROS, MAS O LETRISTA ERA, JUNTO COM CHICO BUARQUE, UMA "INJEÇÃO NA VEIA" QUANDO FALAVA DE POLÍTICA OU DA VIDA URBANA E, COMO UM "PENINHA COM PÓS-GRADUAÇÃO E MESTRADO", UM ROMÂNTICO INCORRIGÍVEL E SOFRIDO QUANDO "APENAS" FALAVA DE AMOR - BETHÂNIA QUE O DIGA.
Este filme não perco por nada. Estou para assistir já-já e já sei que vou gostar.

Quanto à Baby, também assino embaixo. Tem de parar de "viajar" e voltar à sua competente MPB-POP-ROCK. VOZ E PRESENÇA NÃO FALTAM; COM OU SEM PERUCA, SÃ OU DOIDONA TINHA O SEU ESPAÇO NA BOA MÚSICA BRASILEIRA. Que o reconquiste.

Beijos e abraços do seu fã nº1.

 

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