quinta-feira, novembro 15, 2012

música de réveillon


Leio na internet a repercussão do acontecido com o bom Seu Jorge aqui na Lapa, quando ele tentou ler um poema no meio do seu show e foi vaiado por um público que gritava 'paguei pra ouvir você cantar!' É um dos assuntos do momento na comunidade dos músicos e afins. Sou totalmente solidária com Seu Jorge nessa hora. Mas não é exclusividade do público carioca, ou da Lapa, como ele parece acreditar. Acontece no Brasil todo, dependendo da cena em que a pessoa se apresenta, e não é de hoje.

Eu mesma já fui vaiada num show aberto no Aterro do Flamengo, se não me engano em 1991. Era um show, organizado pelo Betinho, chamado Terra e Democracia, uma daquelas campanhas dele. Tínhamos feito um no ano anterior, no mesmo local, e tinha sido maravilhoso - 200 mil pessoas curtindo tudo, e as luzes do Redentor se acendendo no momento exato em que eu cantava 'Corcovado' (ideia maluca do diretor Túlio Feliciano, que o Betinho abraçou e conseguiu combinar com a Arquidiocese do Rio para que desse certo). Nesse show de 1991, Betinho teve a ideia de convidar a Xuxa, então no auge da popularidade, que topou participar. Fui vaiada porque eu não era ela. O público que estava ali para vê-la - os então súditos da rainha - não admitia que outra cantora se apresentasse no mesmo palco. Ela não tinha nada com isso, claro. Foi apenas um erro de estratégia de quem organizou o show. Eram públicos diferentes, cada um querendo uma coisa. E a maioria não queria ouvir música, queria ver a Xuxa. Simples assim.

(na foto acima, o lindíssimo Teatro Amazonas, em Manaus, onde tivemos uma experiência sensacional em julho deste ano, tocando para um público que estava lá sabendo exatamente o que iria ver)

O problema é que hoje a maioria do público no Brasil está a fim de entretenimento, não de arte. É música de massa, milhares de pessoas pulando, bebendo (muito) e dançando. Não é para ser ouvida. Vejam o que meu parceiro Paulo César Pinheiro diz, na nossa 'Quero ouvir João', que recém gravei no meu CD 'Tudo'. Eu assino embaixo.

Toda sexta-feira
A moçada quer sambar
Dia de zoeira
Onde quer que a gente vá
Numa gafieira, num salão, num mafuá
Lá na Estação Primeira
Ou qualquer mesão de bar

Toda sexta-feira
Todo mundo quer um som
Do Chapéu Mangueira
Ao Complexo do Alemão
Rock, metaleira, funk, reggae, pancadão
É tanta barulheira
Musica de réveillon
Ninguém ouve nada, não
Ninguém ouve, não

É pau na moleira
Tudo feito pra dançar
De tanta besteira
O que é que ainda vai ficar?
E nessa brincadeira
Inda não ouvi nada de bom
Que é que tem pra se cantar?
Tudo já ficou fora do tom...

Na sexta-feira
Fujo dessa confusão
Pra ficar inteira
Pra me dar satisfação
Basta uma cadeira
Uma voz, um violão
E assim dessa maneira
Eu só quero ouvir João

18 Comments:

At 12:28 PM, Blogger Marcel said...

Joyce,


Bem que essa letra tinha cara de um "protesto", eu adorei essa que abre o CD Tudo, boa demais.

E o negócio é isso mesmo, tem vezes que eu fico até sem jeito em falar sobre música, porque as pessoas simplesmente desconhecem um estilo mais sofisticado, só ouço falar nos Telós, Gustavos e Luans da vida, uma música muito comercial e sem sentido, como eu costumo dizer, estamos vivendo o período monossílabo da música, o que têm feito sucesso é o tchê, o tchá e o tchu. É triste a situação, mas ainda bem que temos essa nova geração tentando manter firme a base da nossa cultura. O Brasil literalmente não dá valor aos seus verdadeiros artistas, e nós estamos ai pro bem ou pro mau, pra mostrar que também podemos fazer a diferença.

Em relação ao "TUDO", tá TUDO lindo, Claude et Maurice é algo fora do comum, que música é aquela? A sua voz casa muito bem com a do Zé Renato, visto a perfeita sincronia em Dor de Amor é Água, por fim as minhas favoritas foram a própria Boiou e Tringuelingue. Tudo de muito bom gosto como todos os seus trabalhos.

Estamos aguardando shows seus aqui pela terra da garoa na maior expectativa.

Um beijo enorme e Até Jazz!

 
At 6:32 PM, Blogger Luiz Antonio said...

Assino embaixo.
E é bem isso aí. Estive num show da Martnalia, o unico objetivo do público era "se acabar de tanto sambar". Numa dessas se ela canta "Rest La Maloya" (Essa Mania, nome da versão dela para música, com o Moska)o público é capaz de desconhecer a cantora e cair na vaia. Martnália pode ser sambada, mas tem repertório pra ouvir sentadinho numa poltrona. Lembro de Marina Lima, na minha juventude, tendo que cantar "vem chegando o verão...um calor no coração..." pra platéia delirar e eu doido pra ouvir ela cantar "Mapa Mundi" (que nunca deve ter tido uma execução pública sequer (rsrsrsrs realmenete essa foi "executada" humor negro!). Vai saber....
a sociedade está tão previsivel hoje em dia, tão empacotada, justamente num tempo em que o mundo se apresenta com possibilidades imprevisíveis. A mesmiçe impera. Deve ser crise de excesso de tudo...nada mais a fazer...tudo ja está feito..resta viver e pagar as contas e consumir...e a birita que nos salve...bah! Que horror! Faz mal até em pensar nisso! Salvem, pra que nossa emoção sobreviva"!

 
At 10:19 PM, Anonymous André said...

Grande, Maravilhosa, Única, Eterna, Talentosa, Linda (c/ todo o respeito) JOYCE... ah, Joyce MORENO.

Estou com 43, quase 44 anos, e ainda um "bebezão" eu me apaixonei por aquela "gata" cantando "Clareana" no Festival da (arrrrgh!!!!) Globo.

Sou um colecionador de CDs - da boa música - das antigas. Quero a ficha-técnica; o trabalho gráfico; catalogar; prestar atenção em cada detalhe da música e não apenas ouvir por ouvir.

Haja "din-din" para manter minha coleção dos teus discos em dia porque tenho de mantê-la "made in Japan" graças a esta porcaria de mídia e indústria comercial brasileira "xuxística" que só dá valor ao rápido, fácil e descartável.

QUE HAJA MUITOS "EUS" E MUITAS JOYCES PARA MANTER DIGNA UMA DAS MELHORES MÚSICAS DO PLANETA: A NOSSA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Beijos e abraços do teu fã nº1 - se houver outros eu chamo pra briga :-)

PS: só não tenho 1 disco seu para escrever em meu catálogo "Discografia Completa": o de 1986 em homenagem a Wilson Baptista - este nem em japonês ?

 
At 3:55 AM, Blogger edgard horacio said...

tem gente que adora falar bem do
chacrinha. e esse espírito 'carna
valizante' eu acho que é muito
culpa dele. ou ele entendeu que
o 'povaréu' gosta é de carnaval.
o que irrita é quando você vê que
o artista quer mostrar um trabalho
sem ôba-ôba e é mal visto ou
simplesmente não é visto. eu já
vi uma entrevista da própria
ivete sangalo reclamando disso.
quando ela quer cantar uma bossa,
uma coisa mais lenta o público
começa a reclamar. e é difícil
não ouvir um público que derrama
caminhões de dinheiro na sua porta.

tem uma crítica do j.r. tinhorão
a seu respeito que inclusive fala
disso. de 16 de maio de 1977:

http://news.google.com/newspapers?id=_voZAAAAIBAJ&sjid=cwwEAAAAIBAJ&hl=pt-BR&pg=1290%2C181814

 
At 4:59 PM, Blogger joyce said...

Obrigada, Edgard, pelo link. Essa matéria do Tinhorão ("urutu, sucuri", como diriam Aldir Blanc e Mauricio Tapajós) é hilária! Um festival de preconceitos, atirando pra todas as direções, além de algumas informações erradas (não fui, nem poderia ser, contemporanea de Sylvia Telles ou Agostinho dos Santos, todos da geração dos anos 1950. Acho que ele me confundiu com Julie Joy, ou com Dolores Duran)

Ele foi um pesquisador importante, mas extremamente preconceituoso, que chegou a denunciar Tom Jobim para o fisco, de tanto ódio que nutria pela bossa-nova. Essas atitudes tiram a isenção do trabalho, um pesquisador sério não pode ir por esse caminho. Acaba fazendo humor involuntário...

 
At 10:01 PM, Anonymous André said...

Tinhorão nunca poderia ter sido analista, crítico ou consultor de "budega" nenhuma justamente pelo dito por Joyce.

Isenção é requisito básico para tais profissões. Opinião própria neste tipo de profissão guarda-se para si.

Eu, por exemplo, adoro e entendo muito de música - meus mais de 8.000 CDs (entre LPs e DVDs) que o digam - mas jamais poderia ser um "crítico musical de carteirinha" porque não sei escutar uma música desprovido de preconceito.

Imagina eu "perdendo o meu tempo" com um disco de Roberta Miranda ? Não passaria do 1º acorde da 1ª música para afirmar: "que porcaria". Ou analisando um disco de Joyce: "Maravilhoso!!! Nem precisei ouvir" (?!).

NÃO É BEM POR AÍ. Vai que Roberta Miranda canta um clássico e Joyce dá uma de Caetano e começa a "MPBzar" uma porcaria brega do tipo "tapinha que não dói". DIFÍCIL.

UM EXEMPLO DISTO ACONTECEU COMIGO HÁ POUCO TEMPO: quando molequinho curtia aquela menininha Aretha em tudo que era programa de TV infantil de boa qualidade (houve tempo que existia) mas imagina se eu ia perder meu tempo ouvindo hoje a Aretha Marcos adulta e brega ? QUEBREI A CARA! Quando a assisti naquele programa da Globo que o Pedro Bial apresentou este ano (não estou falando do Big Bosta) me emocionei com a pessoa e, por curiosidade, fui pesquisar na Internet seus trabalhos adultos e tanto o DVD em homenagem ao papai Antônio Marcos quanto o CD autoral SÃO MUITO BONS. Tem uma voz muito bonita, é uma cantora afinada e o repertório é muito bom - e na esteira ainda vim a ouvir com outros ouvidos a obra de Antônio Marcos e a de Vanusa "desarmado" e descobri muita coisa bacana que só fez aumentar a minha coleção.

MÚSICA BOA NÃO TER COR; RAÇA; SEXO; RELIGIÃO E MUITO MENOS PRÉ-REQUISITOS. É necessário ouvir.

Mas confesso que com relação a mim tem de haver um empurrãozinho, pois afirmo "perante o altar" que prefiro a Joyce MUDA que Xuxa "CANTANDO". Estou errado ?

 
At 1:09 PM, Blogger pituco said...

joyce,

obrigadão...e perdoai-os, eles não sabem o que vaiam...

abrsonoros e songbook joyce moreno, já...

 
At 11:09 PM, Blogger Marcel said...

Li e precisei voltar!


Assino embaixo do Pituco, Songbook Joyce Moreno JÁ!


Aonde preciso assinar? =)

hehe

Beijo enorme!

 
At 1:20 PM, Blogger joyce said...

Pituco e Marcel, há o projeto de disponibilizar partituras no meu website. Espero que wm breve!

 
At 1:32 PM, Anonymous Baptistão said...

Muito bom, é isso mesmo. As pessoas não querem escutar nada, querem pular. Também tenho minha coleção de discos que me salva, um verdadeiro oásis. E, cá pra nós, Paulo César Pinheiro é um craque, não? (Desculpe, Joyce, não posso falar da melodia porque ainda não tenho esse disco e não ouvi; mas tenho certeza de que está à altura da letra, assim como outra composição de vocês, a primorosa Outras Mulheres.) E, Joyce, aproveitando: a caixa com seus discos dos 70/80 ainda sai?

 
At 9:21 PM, Blogger rogerio santos said...

A letra do Paulo Cesar Pinheiro, pra variar, vai no cerne da questão.

Quem liga pra letras e melodias bem elaboradas?

Creio que, ainda muita gente...
Mas o consumo se distanciou da qualidade e o país (no geral) emburreceu...

Abraços, Rogerio

 
At 1:34 PM, Blogger joyce said...

A caixa dos anos 1980, por enquanto, emperrou, infelizmente, por problemas contratuais. Mas saiu um CD pelo selo Discobertas, de raridades minhas, quase tudo dos anos 1960/70, que é interessante. Este mesmo selo tem um projeto de lançar um DVD com o programa Ensaio, da TV Cultura, que eu fiz em 1975, ou seja, é praticamente eu antes de mim...

 
At 9:04 PM, Blogger Bernardo Barroso Neto said...

Musica e letra maravilhosa. Retrata exatamente o que estamos vivenciando no Brasil atualmente. Ainda bem que temos Joao, Joyce e outros artistas maravilhosos que nos salvam dessas poluicoes sonoras.

 
At 4:30 PM, Blogger pituco said...

joyce,

o baptistão mencionou teu outro musicaço com p.c.pinheiro...outras mulheres...daí fiquei com vontade de reouvir e coisa e tal...com a tua, outras tantas versões bacanudas no youtube...nas vozes de outras mulheres...e me deparei com esse vídeo...(que já deves conhecer)...

http://www.youtube.com/watch?v=yb9V4QgzqLI&feature=related

e, sem tua prévia anuência, postei em meu blog...quero ouvir joão...pra retribuir a boa lembrança do baptistão...(mas, se qualquer quiprocó, avise que suspendemos por lá...)

abrsonoros...feliz e ansioso pelas partituras...obrigadão (tocando direto 'puro ouro'...)

 
At 8:55 AM, Anonymous Toninho Lima said...

É isso mesmo, Joyce! O que você escreveu reflete o sentimento dos apreciadores da boa música e, penso eu, dos seus fãs.

Grato por nos presentear com o CD "Tudo", um dos melhores discos do ano, na minha opinião. Tudo perfeito: da capa aos arranjos.

Você e Ze´Renato arrasaram em "Dor de Amor é Água". E "Aquelas Canções em Mim" parece ter sido feita para o disco "Feminina" (rsrs).

 
At 9:05 AM, Blogger joyce said...

Obrigada a vocês que enfrentaram a burocracia dos correios e o preço ridículo que se paga para ter um CD de fora do Brasil pela internet (ainda mais vindo do Japão!) Mas aviso que deve sair no Brasil ano que vem, se tudo der certo...
Vamos torcer!

 
At 8:36 PM, Anonymous Terry King said...

Ola Joyce,
Infelizmente, as pessoas quem gostam escutar e ouvir a música, quem não têm pressa e que querem entender e entrar dentro as letras, os ritmos, as melodias, a harmonia, são excepcionais em qualquer pais. Quando eu comecei ouvir e aprender a música brasileira (especialmente a bossa nova) eu imaginava que o Brasil era diferente dos E.U. Hoje acho que é a mesma coisa no mundo inteiro. Sou feliz que, pelo menos, existe esse comunidade internacional dos músicos e amantes da música que são apaixanado sobre esse música! E o CD Tudo é maravilhoso!

 
At 4:03 PM, Blogger joyce said...

Obrigada, Terry! Acho que é um fenomeno mundial mesmo, infelizmente...

 

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