segunda-feira, abril 01, 2013

é dura a vida da bailarina

Por uma coincidência da vida, estamos seguindo para a Europa mais ou menos na mesma época em que fomos nos anos de 2009 e 2011 (aqui, estamos na porta do Ronnie Scott's, em Londres. Não reparem na data da foto, está errada). Esse tipo de turnê, temos feito mais ou menos a cada dois anos: uma turnê mais extensa, onde visitamos de dez a quinze países diferentes, mudando de cidade praticamente todos os dias - em teatros, festivais, clubes de jazz, com plateias de tamanhos variados. É diferente do que fiz em Praga no ano passado, por exemplo: viajar com certa antecedência, fazer um ou dois concertos num teatro de grande porte e retornar in style. Numa tour tipo essa que iremos fazer agora, o glamour inexiste: é pau, é pedra, é trabalho de operários da música mesmo. E eu adoro!

Esse tipo de trabalho é comum na cena do jazz mundial, que é a que nos abriga. Por isso estamos sempre esbarrando em amigos na estrada que também vivem essa mesma realidade, como os queridos Joe Lovano, Kenny Werner e tantos outros. Alguns (poucos e corajosos) brasileiros também encaram a estrada dessa mesma forma - Marcos Valle, por exemplo. Outros já não encaram mais, e se dizem cansados dessa pauleira. Eu fico fisicamente cansada também, mas confesso que não estou preparada pra desistir. Diante da mesmice do Brasil, onde tudo é tão difícil e se precisa implorar patrocínio para as coisas mais simples, penso que se eu parar de viajar, minha música para também. Então vou indo...

Vejam bem, falo aqui da MCB, a música criativa brasileira (conceito que inventei de brincadeira, e o Menescal adorou). Pra quem faz da música um comércio, e não o ar que respira e o pão que come,  tudo fica mais fácil. Às vezes tenho de explicar: não faço música porque quero fazer. Não escolhi a música, a música me escolheu e eu estou no mundo para servir a esta escolha. tenho plena consciência disso.

Viver desta cena do jazz demanda coragem. A visibilidade é menor, o dinheiro também (principalmente quando se quer manter a identidade brasileira da música. E aliás, raramente aparecem brasileiros na plateia...). Em compensação, a liberdade é infinita, e é essa liberdade que me move. Do contrário eu estaria presa a uma vida que não me interessa, fazendo, ou tentando fazer, uma 'Clareana' por ano, correndo desesperadamente atrás do sucesso, obedecendo às tendências do momento. Não sou, jamais quis ser, uma 'canária', uma 'cantora': minha voz é um instrumento que serve ao meu pensamento musical. E é a esse que obedeço.

Parabéns a quem faz música comercial porque gosta. Que felicidade, e que vida simples deve ser... Eu só sou feliz quando faço a música que me move, aquela que vai um pouquinho além de mim e me empurra para diante. Aquela que a maioria do público no Brasil, mesmo quem gosta de mim, desconhece. Como um dia disse Antonio Maria, a propósito de uma crônica: "sinto muito, mas pior que isso eu não sei fazer". Por isso vou em frente, em busca de um lugar onde o inesperado na música seja sempre bem vindo. Por isso estarei na estrada mais uma vez, semana que vem.

15 Comments:

At 11:37 AM, Anonymous Sergio Santos said...

Que a estrada e principalmente o público e a música lhes sorriam!! Felizes vocês certamente estarão, que eu bem sei. Beijos a todos.
PS: não deixe que esses caras arrumarem gigs muito esdrúxulas pra mim dessa vez!!

 
At 11:44 AM, Blogger Irinéa MRibeiro said...

É tão identificante seu texto... Chego a pensar no que será da nossa música com esse desvario que assola o Brasil!
E cada viagem levamos nossa música, nosso idioma, para quem quer realmente colher essências brasileiras reais.
E sabemos que a mpb encanta qualquer um no mundo!
Boa viagem, queridos! Que seja mais um sucesso, e que a inspiração esteja com vcs! bjsss

 
At 11:47 AM, Anonymous Anônimo said...

Desejo a voces os versos de Anjo de Mim: do Ivan Lins " me leva...". Otima viagem!

 
At 1:38 PM, Anonymous Baptistão said...

Que bom que existem artistas que encaram a música como você, Joyce. Os ouvidos - os meus, pelo menos - agradecem. Uma grande turnê pra vocês.

 
At 1:43 PM, Anonymous Anônimo said...

Diante deste quadro, acho que o Minc deveria preservar artistas com relevantes servicos prestados a Cultura Nacional. Nada mais justo.

 
At 2:57 PM, Blogger Diogo Tomás said...

Salvé! Viva a liberdade e quem a vive! É sempre uma grande aula, lição de vida, estas suas reflexões escritas. Obrigado. Boa aventura!

 
At 4:28 PM, Blogger Luiz Antonio said...

Conheço tua música Joyce, sou daqueles que se irritava quando alguém perguntava se Joyce era aquela do Clareana também poderia responder:sim é o pior que ela sabe fazer, desculpem-na!
Com respeito as filhas, tua música passa longe dessa música, mas essa música faz parte de tua obra, assim como minhas arquiteturas "de habitar" fazem parte do meu acervo de arquiteturas "pra morar e viver"
Te chamo de canária aqui no blog e bem digo tuas tournês fora do Brasil, fazendo menção a letra de Canário do Brasil, que passou _of course_ longe do critério seletivo do MPB 81. Espero nunca tenhas te ofendido com esse "nick" que te coloquei.
E vai com tudo, Marseille te espera!

 
At 6:15 PM, Blogger Bernardo Barroso Neto said...

É cada vez mais raros ver artistas como você. Ainda bem que nós podemos apreciar as suas músicas. Ótima turnê para vocês!

 
At 7:27 PM, Blogger Luiz Antonio said...

complemento: não passaria no seletivo do MPB-81 até porque se trata de MCB e não de MPB e a MCB, além de tudo o que ja é, tem também a caracteristica de ser atemporal

 
At 7:44 AM, Anonymous Anônimo said...

Enquanto voces estao la fora, a gente vai aturando aqueles que sao sem nunca ter sido. Ai meu saco!

 
At 1:01 PM, Blogger pituco said...

joyce,

boa viagem e saúde pra ti e toda trupe...

abrsonoros
ps. curto pacas clareana...não vejo mal algum em se compor uma por ano...???

 
At 4:08 PM, Blogger joyce said...

Eu adoro Clareana! Só detesto a obrigação de repetir uma fórmula que deu certo...

 
At 4:45 PM, Anonymous Anônimo said...

Ah! Em tempo! Se Paul McCartney lhes pedir autografo, de um abraco nele por mim. Beatlemaniaco.

 
At 5:46 PM, Blogger Marcel said...

Sou suspeitíssimo para falar!


Conheci o trabalho de Joyce com Clareana, a primeira música que aprendi a tocar do repertório dela foi Clareana, adorei todos os arranjos que foram feitos em cima do original, acho ela uma das mais gostosas do repertório.

Entretanto...., fico claro, com a MCB, foi no disco Feminina que conheci "Aldeia de Ogum" e passei a olhar com outros olhos a música instrumental no Brasil e me apaixonar por todas que a Joyce fez, visto que a minha favorita é "Penalty" do Samba Jazz e Outras Bossas, e a música "Até Jazz" do Ilha Brasil, discos completamente diferentes da proposta do Feminina, então também sou a favor dessa história de que repetir a fórmula que deu certo é um pouco chato e careta.

Os sertanejos que o digam, vivem dentro do universo do campo harmônio de dó maior, e só conhecem a fundamental, a 4º e 5º justa e a 6º menor, todo mundo sabe como casam bem esses acordes e a história se repete todos os anos, sem contar as levadas ritmicas que se perpetuaram, quando não são baterias elétricas tirando trabalho de músicos por ai...

Por isso os trabalhos da Joyce são tão bacanas, temos ai o TUDO, que teve um pouco de TUDO, criativo e inovador, como já poderiamos esperar dessa que pra mim é A MESTRE, orgulho de seguir os passos dessa mulher é o que não me falta!

Um beijo enorme,

Até Jazz.

"Fiz referência ao "Até Jazz" porque aprendi a tocá-la enfim...! rs"

 
At 4:06 PM, Blogger Leroi said...

Olá, Joyce. Parabéns por seguir sua verdadeira musicalidade. Acredito que sua música só é autêntica por seguir os seus valores.

Ps: Ainda estou esperando um show aqui em Goiânia.

Um forte abraço!

 

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