segunda-feira, julho 01, 2013

gênero, transgênero, sexualidade - ou não?


Leio matéria na revista New Yorker que diz que "o transexual é o novo gay" ("transgender is the new gay"). Lá na terra deles, é claro: por aqui o/a transexual é humilhado/a, maltratado/a, e os/as gays também são. Mas nos Estados Unidos, de onde geralmente vêm as últimas novidades comportamentais do Ocidente, cada vez mais crianças e adolescentes em plena puberdade ganham o direito de assumir o sexo que preferem ter em suas vidas, cada vez mais cedo e, muitas vezes, com apoio dos pais e da escola. Seguem-se mastectomias em meninas de 14 anos, cirurgias precoces para extirpar os pênis, uma garotada tomando hormônios numa idade em que mal começaram a aflorar sexualidade e sentimentos. Não sei não, respeito tudo isso, mas de modo geral, acho um pouco cedo demais. Minha opinião, claro, o que não quer dizer absolutamente nada. Mas, cá com meus botões, penso que aos 12, 14 anos, a gente ainda nem tem muita certeza do que é. Uma decisão de tal magnitude, que vai mudar uma vida inteira, precisaria ser tomada, imagino, com alguma maturidade e muita segurança.

Uma das meninas entrevistadas, que está em pleno tratamento para virar rapaz, e é justamente esta que fez a mastectomia precoce, quando perguntada sobre o que pretende fazer de sua sexualidade no futuro, diz que "provavelmente vai namorar meninos". Ou seja, ela quer se transformar num homem... gay. O mistério da natureza humana...

Por que isso me interessa tanto? Porque eu, naquela idade, tinha seríssimas dúvidas sobre se queria ou gostava de ser menina. Sempre detestei o papel compulsório que a sociedade me dava. Na adolescência, preferia mil vezes tocar violão, ler meus livros, praticar esportes 'masculinos'. Não tinha o menor interesse em cabelos, unhas feitas, maquiagens, roupitchas. Gostava mesmo era de pegar emprestadas as roupas do meu irmão. De usar jeans, camisetas, tênis - aliás, gosto até hoje. E nadar, pegar onda, jogar bola, essas coisas. Conversar com os garotos de igual para igual, até eles se assustarem comigo. E me sentia tremendamente deslocada num fútil ambiente 'de meninas'. Embora eu gostasse - e muito - de meninos. Mas estes não eram, nem de longe, minha única preocupação.

Por conta desse meu gosto - esdrúxulo para uma garota dos anos 1960 - ouvi de minha mãe, milhões de vezes, a famosa frase que marcou minha infância e adolescência - "minha filha, você não é feminina"- dita com ar de profundo desgosto. Freud explica porque tive de fazer aquela música, já pelos meus 29 anos, explicando que a identidade feminina não estava no cabelo, ou no dengo ou no olhar...

Pois então, fosse eu uma adolescente norte-americana nos dias de hoje, poderia ser tentada a fazer uma cirurgia tão definitiva - que me transformaria, quem sabe, num homem gay - e teria perdido a oportunidade única de ser mãe, parir 3 filhas e poder trabalhar com intimidade no universo feminino através da minha música, como sempre fiz.

Sorte minha que a mudança precoce de gênero ainda não era moda naquela época.

3 Comments:

At 2:21 PM, Blogger rogerio santos said...

Parece que a humanidade está com pressa de ter pressa de ter pressa...

Periga as próximas gerações nascerem com duas bocas e nenhum ouvido... nem de fora e nem de dentro...

Abraços e bom semestre...
Rogerio

 
At 7:47 PM, Blogger Carlos Lyra said...

Como somos pareceidas! Adorei o texto.
Bjs,
Magda

 
At 1:24 AM, Blogger pituco said...

joyce,

você é a/o cara...rs...bacanuda confissão...corajosa...

abrsonoros e segue o baile...

 

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