segunda-feira, novembro 03, 2014

Um tempo em que se morria por isso

Esta foto é de um tempo em que se morria por isso. E tem uns malucos pedindo a volta dos militares, tem doido pra tudo. Santa ignorância.
Quer saber como era viver numa ditadura militar? Era mais ou menos assim:

Ter suas músicas censuradas. Ter de mandar seu trabalho, depois de tudo pronto, para o crivo dos censores, podendo ser aprovado ou não. Só poder trabalhar com a famigerada 'carteira de censura', permissão dada (ou não) aos artistas pela Polícia Federal.

Ter de pagar uma taxa de mil dólares para poder viajar ao exterior - chamava-se 'depósito compulsório', nós aqui em casa chegamos a pagar por isso, para que minha enteada, filha do Tutty, pudesse ser devolvida à mãe, que morava nos Estados Unidos. E por falar nisso, ter sua enteada/filha de quatro anos presa no Galeão pela polícia política, por estar sendo trazida de NY até você por um casal amigo (os queridos Ana Arruda e Antonio Callado) que estava na lista negra. Ao chegar em casa, depois de horas de sufoco, a criança tendo sido finalmente libertada pelo esforço de um advogado amigo, ver que a maior parte dos brinquedos que ela trazia tinha sido desmontada pelos policiais do DOPS, para ver se continham alguma mensagem subversiva dentro.

Estar sempre falando por códigos ao telefone, pois sua linha podia estar grampeada, e vai saber o que os hômi poderiam achar da sua conversa. Vai que saísse algum comentário crítico...

Ter amigos e parentes assassinados e/ou desaparecidos. A pessoa podendo ser presa, torturada, morta, ou forçada a ir para o exílio, se fosse marcada pelos hômi. Ou se fosse chamada para um depoimento e não convencesse, como  aconteceu com um garoto, totalmente inocente, vizinho de minha prima, que era a cara de um ex-líder estudantil que estava sendo procurado. Ou como aconteceu com nosso amigo, e grande pianista, Tenório Júnior, preso, torturado e morto (por um engano desses!) pela polícia política argentina, com a conivência da polícia política brasileira.

Ter amigos exilados, ou "banidos' - banido era pior, pois queria dizer forever - o que finalmente não se deu, pois estes, com a anistia, finalmente puderam voltar. Mas até que isso acontecesse, imagine o desespero das famílias e a dor dos exilados.

Ter amigos presos e exilados por incomodarem a 'família brasileira' e os bons costumes, como Caetano e Gil.

Ter notícias da corrupção em Brasília apenas pelo boca-a-boca, pois na imprensa não era possível, e o tempo estava sempre com 'nuvens negras e ar irrespirável', como escreveu o gênio (e meu professor na PUC) Alberto Dines na manchete do JB, no dia do famigerado AI-5.

Malucos pedindo intervenção militar - nem os militares querem isso. Vocês só podem estar brincando.

3 Comments:

At 12:04 AM, Blogger Lalu said...

Realmente é inacreditável. Talvez caiba dentro daquela máxima de que um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la. Espero que não. Mas mesmo sem golpe militar uma coisa parece estar de volta: a patrulha ideológica. Impressionante como está difícil fazer crítica a qualquer um dos lados. Estou morando nos EUA e, assistindo a essa última eleição via Facebook, tinha a impressão de que o estava acontecendo eram dois monólogos paralelos e quase histéricos. Diálogo e debate mesmo, eu quase não via. Tomara que esse tenha sido só mais um passo no nosso processo de amadurecimento política…

 
At 12:20 AM, Blogger Cyntia Monteiro said...

As pessoas não estarem satisfeitas com o atual governo eu até entendo. Só é impossível compreender como é que dá pra ter saudade do que o Brasil já viveu! Eu não preciso ter vivenciado a ditadura ou governos anteriores para desejar que isso não aconteça novamente. Quando estava voltando para casa, dei de cara com essa bizarrice na Paulista: http://vimeo.com/110697471
Se são esses eleitores que "surgiram" nas manifestações do ano passado, eu sinto vergonha. Quando as pessoas entenderão que "intervenção militar" e "impressa livre" não se encaixam em um mesmo protesto? A impressão que dá é que as pessoas estão lendo pela metade, absorvendo informação pela metade. Ninguém quer se aprofundar em nada, protestar por protestar e repetir um discurso de ódio parece mais interessante.

 
At 10:42 PM, Blogger Luiz Antonio said...

Olha, andei vendo tudo meio de longe, ao menos tentando me distanciar para buscar alguma clareza.... e ta dando como resultado : Geléia Geral!

Uma eleição acirrada, um candidato que perdeu esperneando.Uma candidata que venceu vendo os maiores escândalos da história
brasileira sendo levados a imprensa - graças a democracia e a liberdade -

Escândalos que o candidato que perdeu atribui ao governo da candidata que venceu, num "salve meu pai que roubaram o Brasil"

E no meio dessa confusão é que me parecem surgir os rumores de quem fala na volta da ditadura...

Se não perdi algum capítulo, acho que é por ai...

E, no capítulo de hoje, o "clube" das empreiteiras que lavaram a égua na Petrobras - do Governo atual, sendo presos...sem se esquecer que são as mesmas empreiteiras que lavam há égua há décadas em todos os governos que por aqui passaram desde o fim da ditadura (se não ainda nos tempos dela, não sei registros dessa época), leia-se, nos governos do candidato que perdeu e hoje esperneia.

Não salvou ninguém, tudo está explicitamente divulgado. Os Reis estão nus e em todos eles as vergonhas estão de fora. Quem fez hoje na Petrobras, fez sempre em todos os setores por onde atuaram no Brasil.

A diferença é que antes uma ferrovia, uma hidroelétrica ficavam abandonadas no sertão e ninguém sabia...hoje ta no face, ta no google earth, ta no celular do "capiau", compartilhada com Deus e todo mundo. E isso é liberdade de informação e de imprensa.

O Brasil se perdeu ( pra não dizer pior rima) e o que restou é essa democracia meio alarmada, meio sem saber como usar, meio desgovernada, meio intuitiva, meio analfabeta, meio self.... mas é democracia . O que vamos fazer com isso, ou melhor, como vamos sair disso, não sei, mas a transformação é inevitável, sairemos como pudermos, talvez não da melhor forma, mas o ensaio está sendo feito aberto ao público.

Quem fala em ditadura a essa altura...sinceramente, com todo respeito e desculpe a ingenuidade: acho que estão confundindo ditadura com um clamor de uma pouco de ordem em meio ao caos que estamos vivenciando. Espero que seja só isso, um brado por estabilidade, erroneamente associado a ditadura porque não tem mais nem oposição nem situação, tudo caiu no mesmo buraco! Acho que o pessoal deve ter uma saudadezinha de algo que cheirava a toque de recolher, a hora de pensar, de dizer "pára!" que eu quero entender...algo como castigo paterno (rsrs) só pode ser isso, senão é insanidade pura!

 

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